A Cinza das Horas
E dessas horas ardentes ficou esta cinza fria – Manuel Bandeira
Passar aflito o dia, o mês e o ano
Traidoras horas de enganoso encanto
(Parece até que a dor as faz pesadas!)
Que o tempo que se vai não torna mais.
A vida ao mau destino está sujeita
Que talho o meu pesar em decassílabos:
Da alegria e prazer breves ufanos
Da paixão e do amor mágoa infinita.
Bárbaro tempo! horror da humanidade!
Lembranças que se perdem da memória
Quão raríssimas horas de alegria.
Meu peito infeccionou côa vil torpeza
Da ingrata condição, senil, volátil;
O tempo a me soprar fervor humano.
A lembrar-me (ai de mim!) da mortal hora.